Falar
de trabalho cansa. Cansa mais por sabemos que o trabalho sempre foi um termo
pejorativo. Não se vai ao trabalho, vamos à luta, a batalha, não se trabalha,
rala-se, ou pior, trabalho em termos racistas, “hoje é dia de branco”.
Falar
da Ética no trabalho então, Meu Deus! Vivemos ainda o período Industrial.
Habitamos firmemente a esse período que cada vez mais, tende a desaparecer no
horizonte, nada fictício das novas tecnologias. Mas ainda estamos aboletados em
suas franjas.
A
Ética do trabalho segue a esse desenho. Nasceu em fábricas, moldou-se no
gotejar das exigências trabalhistas das fábricas. Nossa carteira de trabalho a
bem pouco tempo, trazia em sua primeira folha, um texto que precozinava o quão
bom seria possuir uma assinatura só, apenas a chancela de uma empresa em suas
páginas; comparavam-nos, a “abelhas.” Isso, também morreu. A morte do
ultrapassado, como as regras de Ética outorgadas de cima para baixo, no chão
das fábricas. Desejos patronais, sindicais, vontades esdrúxulas de ditaduras, desejos
Estaduais, Federais, Municipais.
E
entramos na Nova Era. A era da subjetividade. A ética do trabalho sofre então
sua mais grandiosa mutação. A possibilidade de escolher entre produtos
infinitamente variados alimenta o desejo, que é muito humano, de se sentir
diferente dos outros, em vez de igual. O novo humano quer cada vez mais ser
único e inigualável.
Outro
aspecto sério é a desestruturação do espaço/tempo. O Tempo é nossa neurose.
Possuíamos o tempo certo, o lugar específico. O amor ocorria de noite, as
compras à tarde, a diversão em um bairro, e assim por diante. Agora todas as
nossas ações podem ser feitas a qualquer momento, hora ou lugar. Chegamos ao
ponto de poder fazer sexo pago intercontinental. Usos mentalidades e sentimentos
separam-se dos lugares e dos horários.
Como
a ética dos novos tempos vai lidar com o “overtime”? Exigência do chefe,
dependência psicológica? O trabalho diminui, mas as horas em que ficamos nele
aumentam. E os estímulos criativos que só se recebe fora do trabalho? Como ser
criativo trabalhando 12 horas por dia?
A
nova ética vem lidar com isso. O tempo menor que se gasta no trabalho, a vaga
que sobra sendo preenchida por outro que também precisa trabalhar. O segundo
emprego que pode advir disso. Pela primeira vez no mundo, mudar a organização
do trabalho, pode significar mudar a organização de toda uma existência.
Como
ainda estamos presos na era da indústria, mesmo vivendo em plena Cyber cultura,
sofre os miasmas do passado. Em sua grande maioria, empresas de serviço mantêm
milhões de pessoas num regime de baixo nível das ideias, utilizando só as suas
capacidades executivas, fazendo com que se envolvam de tal maneira com a
burocracia, que elas acabem perdendo a capacidade de inventar e se tornam
robôs. Prejudicando a eficiência e a competividade da empresa que acredita ter
uma maior produtividade, quanto maior for o tempo que seus funcionários
passarem nos seus escritórios, enquanto a verdadeira eficiência é medida com
base em ideias produzidas em capacidade criativa.
Um
ambiente criativo consiste na ausência de restrições à criatividade, na
presença de uma liderança carismática e num clima de entusiasmo que fecunde as
ideias. Enquanto nas organizações baseadas na burocracia, as ideias são
sufocadas.
Como
se processará essa nova ética, de um mundo lento e não esquemático, levando-se
em conta que velocidade tem a ver com a era da Indústria; e que velocidade
significa capacidade de conquistar terreno em relação aos outros em amargas
disputas de espaço?
Esse
o desafio que a nova ética do trabalho deverá enfrentar, pode ser traduzido na
frase de Bill Gates: “Aqueles que assimilarem as novas categorias projetarão o
futuro para os demais.” Nossas novas necessidades não são mais claras e fortes:
são constituídas por um mosaico de pequenas necessidades, porém todas importantes.
A
nova ética substituirá a luta de classes? Transformará o ambiente de trabalho
em um ringue de honestas disputas, entre conscienciosos colegas de trabalho que
não se digladiarão?
Posicionando-se
frente a isso, o embate entre pensadores do novo. De um lado Richard Sennet e Domenico
de Masi. Os dois estudiosos da época imagética, volátil e cibernética em que
estamos aboletados. Só que um preconiza as facilidades, as maravilhas que se avizinham
o outro, mostra os vãos morais do trabalho da nova era.
Da
Nova Era visualizamos em cores, as profundas mudanças da técnica, do ensino, da
arte, do sexo, da sociedade. Abandonamos a muito a visão masculina da era Industrial.
O mundo não é mais gerido apenas por homens e suas vontades enlutadas.
No
Trabalho, ultrapassamos o ideal Taylorista do bom executivo. Estética, Ética,
emoção, moderação, emotividade, são vistos agora como visões e sentimentos
preferenciais e necessários para quem trabalha.
Mesmo
assim, debatemo-nos ainda com a luta talvez eterna de estabelecer um novo
paradigma para o trabalho, uma nova ética do trabalho.
“O
Cyberspaço abriga zonas de sombra. A identidade de sua população é improvável,
cambiante” diz a escritora Rosika Oliveira, e a verdade também é o do balançar
do ideal do livre comércio.
Sabemos
que é o comércio o grande alavancador de mudanças. É ele que nos traz e força
novidades. A falta de comércio, de bens, de circulação de produtos, de
novidades, afeta a sociedade das cidades. Afeta o dinheiro circulante, eclode
em problemas sociais.
O
termo Globalização como teoria de livre comércio, acabou. Embasbacados,
observamos a medidas protecionistas numa guerra mundial visando vencer batalhas
de grande porte, onde os mortos e feridos, são contados mais facilmente no
terceiro mundo, que também ganhou nova formatação. Relatório da OMC, conclui
que o alto desemprego nos países desenvolvidos fortalecerá os que defendem o
fechamento dos mercados e o isolamento de produtos e trabalhadores estrangeiros.
Países como Índia, Indonésia e China, economias relativamente fechadas, mostram
forte ritmo de crescimento, porque administram duramente a velocidade de
abertura e as áreas em que farão negócios, numa assimilação a teorias
econômicas que se pensava extintas, a das áreas lucrativas sendo energizadas e
as outras abandonadas. Imaginem esse espectro de teoria econômica num país de
dimensões continentais como o Brasil?
“A
população do cyberespaço que se delicia no anonimato, se quer também inimputável,
sem lei, sem superego, sem tabu.” Pensam viver a uma revolução, um nome
cintilante que serve a qualquer coisa. Gestão revolucionária de pessoas, o
produto medicamentoso revolucionário, a nova teoria psicanalista, o novo
ensino, tudo hoje em dia tem sabor revolucionário, mas qual o que, continuamos
embarcados na mesma era com uma diferença apenas: a palavra revolução.
“As
balizas do tempo e de espaço, não vigoram no cyberespaço. O lugar do
interlocutor é indefinido, o tempo pode ser inventado, relativizando essas
dimensões com que sempre trabalhara o pensamento, na ideia mesma do real”.
Viveremos
mudanças permanentes, mas infelizmente, nem sempre prazerosas ou emergentes. O
privilégio do tempo é a mudança vertiginosa pela qual passou e continuará
passando o trabalhador, os ofícios que nos sustem.
“Ninguém
sabe o que está por vir. As empresas no mundo inteiro debruçam-se sobre o
enigma. Nada está decidido previamente, como nunca antes, foi. É preciso ter
humildade de ouvir que acha quem consome, e agilidade para alterar o que já
parece bom. É nesse caldeirão de incertezas que se cristalizará nova ética
trabalhista.”
Estamos
condenados a mudança permanente. Entre o que Sennet e De Mais pensam, existe ou
subexiste, um caldeirão de ações passadas e gestos que devem desencadear um
futuro. Futuro ético com toda a certeza.
A
grande literatura de ficção científica do começo do século vinte até 1950, não
conseguiu imaginar a força que teria a matéria plástica. A imaginação do homem
não vislumbrou o poder que continha uma invenção humana.
A
ética do trabalho de século 21 está aí. Esperando ser alocada. Será ímpia como
a de Sennet, com seus grupos jogando falsamente com informações e pior,
relações humanas.,ou profundamente organizacional participativos e influentes
como em Di Masi?
O
Brasil mantém o bom potencial. Que o futuro nos responda.